sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Não dá para se calar

Tem coisa pior do que gente preconceituosa, racista, que acha que suas atitudes não são ofensivas?
Moro num condomínio de classe média, de prédios novos, logo cheio de casais jovens e com filhos. Há muitas crianças por aqui, com suas babás, naturalmente. Recentemente, o síndico resolveu criar uma entrada exclusiva para prestadores de serviço, e entre eles colocou a empregadas domésticas, que sempre tiverem trânsito livre pelas áreas do condomínio e pelos elevadores. Agora elas já não podem mais subir por outro elevador que não seja o de serviço.
O síndico diz que "não é uma questão de preconceito, e sim de colocar cada coisa em seu lugar". Segundo ele, um soldado não almoça no mesmo lugar que um comandante, assim como empregados devem subir por um elevador diferenciado.
Segundo o professor Samuel Vida, da UFBA, o elevador de serviço, tal como funciona aqui, só existe no Brasil e na África do Sul. Em outros países, ele serve para o que de fato deveria servir: para cargas, animais etc.
Interessante pensar como a empregada pode estar dentro de minha casa, cuidando de minhas crianças e não pode entrar pela mesma porta ou subir o mesmo elevador que um morador. Pior é acharem que as coisas devem mesmo ser assim. Indignante!
Como muitos moradores se colocaram contra a decisão, o síndico informou que havia um trecho da convenção que determinava isso. Prontamente propusemos: vamos mudar a convenção! O detalhe é que, para que se mude a convenção, é preciso que o síndico ou o sub-síndico convoquem uma assembléia para a consulta dos moradores. Eles se recusaram a convocar tal assembléia e ainda disseram que, se quisermos mudar, devemos conseguir 1/3 de assinaturas de moradores convocando a assembléia e, depois, 2/3 para a mudança. Uma palhaçada! E sem qualquer constrangimento por parte deles...
O apartheid voltou e está em meu condomínio, mas se depender de mim e de alguns moradores, isso não vai durar muito.
Ah, eu nem tenho empregada, mas é uma questão maior, de educação, de respeito e deve no mínimo ser levada a sério. 

3 comentários:

Tigre disse...

É curioso quando dizem coisas como "não é uma questão de preconceito, e sim de colocar cada coisa em seu lugar", já que o preconceito em geral é manifestado exatamente pela crença de que um lugar seja o "devido" ou "certo" para determinado tipo de pessoa, né?

Isso não deveria ser esquecido quando se fala preconceitos. O preconceito, digamos com P maiúsculo, vai ser afirmado com toda a sinceridade e tranquilidade, e não como algo que se autointitula "visão de mundo preconceituosa".

Leo disse...

alguém tem que explicar pra ele que "entrada de serviço" e "entrada de serviçais" não é a mesma coisa...

Clark disse...

No prédio em que eu morava em São Paulo, eram os moradores que faziam questão de usar o elevador de serviço, ao invés do social, por ser bem mais rápido.

Mas em geral as pessoas pegavam era o primeiro que chegava, pois não dava para se dar ao luxo de esperar um elevador que demorava tanto... A não ser que estivessem realmente com cargas, com materiais de limpeza ou com animais. Acho que uma única vez alguém que estava fazendo algum serviço nos pediu desculpas por estar no mesmo elevador que nós, dizendo que pegou porque o outro estava demorando muito. Ele não sabia que nenhum morador ligava.

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